Trabalho na lanterna
Autor(es): Fabiana Ribeiro e Fabio Rossi
O Globo - 18/03/2012
Com produtividade de US$ 19.764 por cada trabalhador, o Brasil está em
15º lugar no ranking da América Latina, à frente só de Bolívia e Equador.
Especialistas dizem que a produtividade baixa, resultado do ensino fraco que
não qualifica a mão de obra, e os investimentos insuficientes na infraestrutura
emperram o crescimento do país.
Brasileiro fica no 15º lugar em ranking de produtividade da AL,
emperrando crescimento
O crescimento econômico do Brasil está em xeque. Produtividade baixa,
investimento insuficiente, falta de mão de obra qualificada e gargalos
estruturais (de portos a aeroportos) freiam a expansão da sexta economia do planeta,
dizem especialistas. Levantamento com 17 países da América Latina mostra que a
produtividade do trabalhador brasileiro - medida pelo quociente entre Produto
Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) e pessoal
ocupado - está entre as mais baixas: na 15º colocação, à frente só de Bolívia e
Equador, segundo dados da instituição de pesquisa americana The Conference
Board. Perde para países como Argentina
(produtividade de US$ 37.589 por trabalhador), Chile (US$ 35.864), Colômbia
(US$ 23.208), México (US$ 35.579), Venezuela (US$ 31.054) e Peru (US$ 24.054).
Com uma produtividade de US$ 19.764 por trabalhador no ano passado, o
Brasil vai ficando para trás: de um ano para o outro, é estimado um avanço de
1,4% - abaixo da média da América Latina (2,1%) e aquém da mundial (2,5%).
Projeta-se para a China uma produtividade de US$ 16,7 mil em 2011 - menor do
que a do Brasil, mas é um salto de quase 9% em um ano. Na Índia, o indicador
sobe 5,2% e na Rússia, 4,4%. Nos países
ricos, a produtividade alcança US$ 105 mil nos EUA e US$ 78 mil na Alemanha.
- Esse indicador é a síntese da baixa qualificação do trabalhador
brasileiro, dos gargalos estruturais e do baixo investimento. Também está
refletido nesses números o modelo econômico do país, calcado na produção de
commodities. Não investimos em produtos de maior valor agregado. Nessas
condições, não há como crescer 4%, 4,5% de forma sustentada - analisou Marco
Tulio Zanini, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Os dados do The Conference Board apontam também que a produtividade média do brasileiro é quase 20% (18,7%) da do
trabalhador americano. Grosso modo, é como se o trabalhador daqui demorasse
quase cinco dias para produzir o mesmo do que quem está nos EUA.
- A produtividade se ressente da defasagem de investimento e da educação
da população. E, em tempos de crise no mundo, isso faz com que o país perca
competitividade global - disse Flávio Castelo Branco, gerente de Políticas
Econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acrescentando que o
ambiente institucional do país traz atrasos. - Reformas estruturais, apesar de
serem nomes desgastados, são fundamentais para a produtividade.
Com economia fortemente baseada nas commodities, o Brasil observa,
contudo, um crescimento dos serviços - que já responde por mais de 60% do PIB.
Entretanto, esse tipo de setor se expande de uma forma diferente do que se
observou nos países desenvolvidos. E, assim, o segmento pouco contribui para
ampliar a produtividade do trabalho.
- É um setor que, para atender à demanda das classes emergentes, cresceu
nos serviços simples voltados para as famílias e no comércio. Atividades que
não exigem grandes especializações e empregam muita mão de obra - explicou José
Ronaldo Souza Junior, economista do Ipea.
- Ao contrário de países como a China, nosso crescimento recai para
serviços de baixo valor. A China se voltou também para tecnologia da
informação, que requer grandes investimentos em formação. Para se ter ideia, a
qualidade dos serviços brasileiros é ruim. Pedir uma simples pizza pode mostrar
como essa qualidade é péssima. E isso também tem a ver com produtividade -
disse Zanini.
O economista Naércio Aquino Menezes Filho, professor do Instituto de
Ensino e Pesquisa, ressalta que a produtividade do trabalho é afetada pela
escassez da mão de obra, que faz com que os salários de determinadas funções
subam acima da própria produtividade. Salários elevados afetam os preços do
produto final - tiro direto na produtividade, cuja máxima é produzir mais com
menos.
- O Brasil cresce a partir da força de seus trabalhadores. Mas não há
mais como crescer empregando mais gente. Com a taxa de desemprego perto do
pleno emprego, vai faltar gente para fazer o país crescer. Se o consumo
continuar crescendo, pode ser preciso importar profissionais para vários
segmentos. Ou seja: não se nota somente a falta de pessoal qualificado. O
problema se agrava com a falta de pessoal.
Saída é mais
ensino e menos burocracia
Um dos caminhos, segundo Menezes Filho, para ampliar a produtividade vai
além da política de juros ou dólar. É preciso pensar no país a longo prazo, o
que inclui investimento na qualidade do ensino público - não somente sua
universalização -, menos burocracia no ambiente empresarial, reformas
trabalhistas e tributárias, investimentos em infraestrutura e mais inovação:
- Parcela grande de funcionários das empresas está resolvendo problemas:
é gente que não produz, mas resolve questões jurídicas, trabalhistas... Apenas
5% das empresas brasileiras gastam em pesquisa. É muito pouco. Assim como são
poucas as que empregam mestres e doutores. Saltos de crescimento atingem países
que inovam.
Para compensar a falta de qualificação, há empresas que investem nos
funcionários. São exceções, frisa Menezes Filho. Caso da Chemtech que tem uma
universidade interna. Além de treinamentos para projetos, oferece
especializações e mestrados. Em 2011, foram 5.500 vagas em treinamentos para
seus 1.300 funcionários.
- Um engenheiro quando se forma, mesmo sendo elétrico ou mecânico, tende
a ser generalista. Ele não traz conhecimentos específicos para atuar numa área
específica. Atentos a isso, a companhia investe na qualificação, em cursos
específicos. O investimento em educação é de 1,6% do faturamento. Ganhamos em
produtividade e qualidade - concluiu Cristina Maretti, coordenadora de RH da
Chemtech.
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